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Governo processa servidor do Inep que teve artigo barrado



Em texto para o jornal Folha de São Paulo, Paulo Saldaña conta sobre servidor do Inep que está sendo processado pelo atual governo brasileiro.



Um servidor do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), que teve a publicação de um artigo de sua autoria barrada no ano passado pelo órgão, está sendo processado pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

A ação contra seu próprio funcionário, de junho deste ano, argumenta que ele teria violado direitos autorais ao divulgar o material sem autorização do Inep —trata-se de texto, não publicado pelo instituto, com evidências positivas de um programa educacional do governo do PT.

Documentos obtidos pela Folha mostram que o servidor havia solicitado a retirada do texto da programação de publicação em maio de 2021, após a movimentação do Inep para barrar o conteúdo.

A Folha revelou em maio de 2021 que, apesar de vencer todas as etapas previstas de avaliação, o artigo científico teve a publicação obstruída pela direção do Inep. Novas exigências de revisão foram impostas mesmo com o texto já diagramado, o que foi visto por servidores como uma estratégia de censura.

O estudo de autoria do servidor Alexandre André dos Santos e do pesquisador da FGV Renan Gomes de Pieri mostrava evidências de um impacto positivo do programa de alfabetização lançado no governo do PT, o chamado Pnaic (Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa).

O processo contra Santos pede indenização de ao menos R$ 20 mil e a retirada do texto da internet.


Integrantes do instituto veem a ação judicial como mais um capítulo de perseguições e assédio perpetrados pelo presidente do Inep, Danilo Dupas Ribeiro, que teve sua demissão anunciada nesta quarta-feira (27). A gestão dele, que ainda não foi exonerado, esteve envolvida em uma série de denúncias sobre assédio moral contra servidores no ano passado.


Servidores acusaram Dupas Ribeiro, levado ao cargo pelo ex-ministro Milton Ribeiro, de minar a independência do órgão em sua missão de fornecer estudos e pesquisas sobre políticas educacionais. Também houve denúncias de assédio moral contra servidores.


Em nota, o Inep não comentou a ação e defendeu que não houve negativa sobre a publicação do artigo. A autarquia não informou quem decidiu pelo processo e quantos servidores estão na mesma situação.

À Folha, Santos disse que o processo é uma forma de ativismo judicial e assédio moral institucionalizado.


"Estão tentando constranger os servidores, utilizar de estratégias para calar os pesquisadores do Inep, mas não vão conseguir", afirmou ele, que já foi diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep.


O estudo "Avaliação Econômica do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa" estava pronto para sair na revista do Inep chamada "Textos para Discussão" a partir de 30 de abril de 2021. O material havia sido aprovado pela área técnica, tendo sido submetido também a um avaliador externo ao Inep.


O pesquisador fora avisado que a publicação ocorreria em 3 de maio. Mas, de forma intempestiva, as lideranças do órgão informaram ao autor que um novo "comitê editorial" seria criado e o material, reavaliado.

O pesquisador do Inep, sob o entendimento de que a decisão feria o rito estabelecido em documentos oficiais, encaminhou requerimento, em 6 de maio de 2021, questionando Dupas Ribeiro sobre a decisão. No mesmo documento, Santos argumentou que todas as exigências já haviam sido cumpridas e pediu que fosse "retirada a solicitação de publicação do estudo".


https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2022/07/governo-processa-servidor-do-inep-que-teve-barrado-artigo-sobre-projeto-do-pt.shtml

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